24 de outubro de 2009

O Morcego - Poesia de Augusto dos Anjos

Meia noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vê de:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígnea e escaldante molho.
"Vou mandar levantar outra parede...” ·— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o tecto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?.
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto.

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