27 de janeiro de 2010

Game Galeria de Arte Interativa de Dimitri Kozma

Mais uma vez publico meu game que na verdade é uma galeria de arte virtual experimental em formato de game de plataforma. Desta vez, dá para jogar diretamente daqui na página do Sopa de Cérebro.

Talvez fique um pouco lento em alguns computadores. Além disso, a tela está um pouco reduzida de tamanho, o que distorce algumas imagens. Caso tenha algum problema para rodar a Galeria de Arte Virtual por aqui, pode jogar clicando aqui.

NO LIMIAR DA ANTROPOFAGIA - Parte 7 - Conto - Dimitri Kozma

Advertência: História forte, gráfica e perturbadora, leia por sua conta em risco.
Leia a parte 6, aqui.

Parte 7


Parte correndo para o bar, chegando perto, já percebe a multidão se acotovelando, uma faixa impede as pessoas de se aproximar demais do corpo. Dona Maria embrenha-se entre a multidão, por ser magra, passa com facilidade. No caminho esbarra com Germano, marido de dona Cida, que também observa curioso. Finalmente dona Maria chega até a corda de isolamento e dá uma boa olhada.

Havia sangue espalhado por todo o bar, a cabeça do rapaz explodiu como um côco, no chão o corpo estirado, contorcido, “Deve ter agonizado muito antes de morrer.” Pensa dona Maria, que não pode ver o rosto do rapaz, está coberto por um jornal que foi quase totalmente tingido de vermelho. Os dois únicos policiais da cidade estão apavorados, nunca tiveram em mãos um caso tão escabroso. Estão à espera do delegado que, cedo ou tarde, terá que vir até o local do crime. Eles se olham, sem saber ao certo o que fazer.

Dona Maria continua a reparar em cada detalhe e não é possível que lhe fuja da cabeça a recordação do corpo de Laurinha, que está todo moído. Lembra-se novamente dos dois no meio daquele matagal, e imagina como seria agora, um corpo deformado e um cadáver com a cabeça esfacelada fazendo amor. Uma imaginação no mínimo fértil, dona Maria fica ali por horas, vendo aquele pedaço de carne inerte, repara na poça de sangue que foi se formando no chão, e vai minuciosamente percebendo a coagulação que se segue.

Parece não perceber as pessoas a sua volta, apenas olha aquela conquista. Sim, uma conquista de dona Maria, ela queria apenas ver Laurinha tomar uma surra, apenas isso a satisfaria, jamais imaginava, porém, que o resultado seria melhor do que o esperado, agora ela tinha com que se alimentar, agora ela poderia passar a vida observando aquele corpo jazendo naquele chão sujo.

“Mereceu!” Pensa dona Maria com seus botões, “Esse imoral, imundo! Mereceu morrer! Deus castiga o pecador!”, em meio a seus pensamentos extremistas, ainda observando aquele cadáver, que tinha a camisa rasgada, deixando a mostra seu peito peludo, pensa: “Acariciar aquele corpo... Eu tenho que acariciar aquele corpo...”, em seus lúbricos desvarios, dona Maria imagina-se com aquele cadáver em sua casa, imagina-se guardando-o para todo o sempre para junto dela.

Mas volta a realidade quando vê que o delegado Velasquez chegando, um rapaz franzino, bigodinho esparso e olhar assustado. Tentando fingir uma naturalidade diante de tal fato que nunca havia acontecido, ele se lembra dos filmes policiais que assistiu e imediatamente pede para que todos se retirem:
- Vamos, todos prá casa, acabou a festa! Vamos! Não tem nada prá ver aqui.

Pouco a pouco a platéia que se formou vai esvaziando, restando apenas dona Maria, que não consegue tirar os olhos daquele espetáculo grotesco. O delegado então vai falar com ela:
- Dona Maria...
Antes mesmo que possa completar a frase ela, com um ar de eterno sofrimento, o interrompe:
- Tão jovem, tão cheio de vida... Pobre moço...
O delegado, sensibilizado, diz:
- Pois é, dona Maria, esse mundo tá cada vez mais perdido... Mas a gente vai pegar o assassino, custe o que custar.

Ela não responde, apenas faz um sinal com a cabeça, em seu olhar transmite um sentimento de compaixão e piedade. O delegado vira as costas e volta a se preocupar com seus afazeres. Dona Maria permanece ali, assistindo a tudo sem se mexer.

Algum tempo depois é o próprio carro da funerária que lava o corpo, a polícia não dispunha de um rabecão, pediram para a funerária levá-lo até o hospital, onde ficaria na geladeira e posteriormente enterrado o mais rápido possível. Na verdade foram tantas as testemunhas que viram Bernardo atirando que realmente não haveria necessidade de uma necrópsia mais detalhada. Dona Maria colocou reparo quando levantaram o corpo já enrijecido e colocaram-no na maca, o jornal que cobria seu rosto saiu voando com o vento. Ela então pode apreciar com todo o prazer possível ao ver aquele rosto ensanguentado. O crânio estava quebrado ao meio, um enorme buraco bem no meio de sua testa informava que Bernardo deve ter usado uma espingarda de um grosso calibre para fazer o serviço. Apenas um tiro. Na nuca, quando os funcionários da funerária o levantaram, dona Maria pode perceber que o cérebro jorrava pastoso pelo furo que varou a cabeça. Parecia que o sangue na cabeça não coagulara e jorrava como uma fonte. Os olhos estavam saltados, inclusive ela reparou que um dos globos oculares tinha sido estraçalhado.

Ao colocar o corpo na maca, a cabeça pendeu para um lado, o que fez com que mais pedaços do cérebro fossem espalhadas pelo chão, dona Maria vibrava com cada lance. Finalmente o corpo foi retirado e o espetáculo terminou.

Não haveria velório, nem poderia, dona Maria jamais conseguiria maquiar aquele rosto esmigalhado. Ela finalmente sai dali. Embora feliz por ter visto aquilo, ela estava impressionada, nunca vira, em toda sua vida, algo tão aterrador.

De noite ela se prepara toda para ir até a missa, coloca um casaco tricotado e passa seu melhor pó de arroz. O padre vai falar em seu sermão sobre o que aconteceu hoje, dona Maria não pode perder por nada nesse mundo. Ela passa pela pracinha e encontra dona Cida, também indo à missa.

- Dona Maria, a senhora viu que desgraça?
- Sim... – consternada dona Maria responde – Foi uma pena, não é dona Cida?
- Bem que a senhora me falou que isso não ia terminar bem... E agora, olha só que tristeza, jovens tão cheios de vida...
Sem parar de caminhar Cida fala:
- Não sei o que deu no seu Bernardo... Ele era tão calmo.
- Isso é falta de Deus, dona Cida! Falta de Deus! – Percebendo que o marido não a acompanhava á missa, dona Maria diz, maliciosamente - E seu Germano, como vai?
- Veja a senhora, dona Maria! O Germano tá com problema na próstata... Tá morrendo de dor, não pode sair de casa de jeito nenhum o coitado.
Com um sorriso maroto, dona Maria fala:
- Pois... É estranho, hoje de tarde eu vi o seu Germano lá no meio da multidão olhando o rapaz morto... Ele já estava com dor? Ou será que a dor vem só na hora de ir à missa?
Meio sem graça, pigarreando, dona Cida tenta explicar:
- Bem... De tarde ele estava melhor... A dor piorou agora. Mas da próxima vez ele vai vir prá missa nem que eu tenha que arrastar... Ele vai vir.
- Acho bom mesmo, dona Cida. Sem Deus no coração não somos nada, está ouvindo? Nada!

CONTINUA

Trabalho fácil...

Trabalhinho bem fácil. Imagino quanto deve ser o salário do rapaz... Se ele fizesse a mesma coisa num circo, provavelmente estaria ganhando rios de dinheiro.

Clássicos da Internet - O Trote da Telerj

Escute a versão completa do clássico trote da Telerj com Luiz Pareto.

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