6 de maio de 2008

RIOFAN 2008 - Entre Espelhos e Sombras

Meu curta ENTRE ESPELHOS E SOMBRAS será exibido hoje (terça-feira, dia 06/05) e na próxima sexta-feira (09/05) no Festival RIOFAN.
Se você estiver no Rio de Janeiro, vale a pena conferir. Clique aqui para fazer o download da grade completa da programação em PDF. Tem muita coisa interessante.

Virada Cultural - O Bebado na Capoeira

Mais bizarrices. Um bêbado que assistia a uma apresentação de capoeira tentava imitar seus ídolos.

Quadrinhos: A Triste História de Zé Bafo de Esgoto - Dimitri Kozma

Para quem não conhece, aqui vai a repostagem da Triste História de Zé Bafo de Esgoto. Clique para ampliar.

Virada Cultural - Fotos 6 - Curiosidades

As últimas fotos da Virada Cultural que selecionei. Ainda tem muito mais, mas não vou cansar vocês. Vou dar um tempo antes de publicar outras (se publicar). Vamos lá.

Durante um show, em meio a um ensurdecedor barulho, uma mãe desnaturada deixa seu pequeno rebento tirar uma soneca.

Gostei dessa foto. Alguma coisa como "nadando contra a corrente". ;-)

Na placa: "Sandro - Resolve o problema da calvície"

Rappel urbano. Gostei das 2 fotos seguintes.

UM FILHO PERFEITO - Conto de Dimitri Kozma

O sonho de Luciano sempre foi ter um filho, um primogênito, alguém que continuasse sua existência, casara-se cedo, tinha vinte anos, sua esposa, Julia, tinha pouco menos, moça delicada, não gostava muito de falar, aquietava-se constantemente. Luciano, por outro lado, era falante, gostava se conversar, tinha uma extensa relação de amigos e conhecidos, falava de sua vida com todos, e se relacionava bem com qualquer estranho.

Um dia, depois de sair do trabalho, Luciano passa numa loja no Shopping Center próximo a sua casa, escolhe um brinco de ouro, cravejado com uma pedrinha de diamante, não era rico, mas gostava de presentear sua amada esposa. Paga em três vezes o bem recém adquirido e ruma para a casa, um sobrado simples, porém arrumadinho num bairro de periferia.

- Ju! Querida! – Grita Luciano, abrindo o portão e rumando em direção a sala.

A esposa estava passando roupa no quintal e não pode ouvir o marido chegar, ouvia um velho rádio de pilha no último volume, tocava um novo sucesso do grupo “Bundinha Marota”, um desses conjuntos que se formam de um dia para a noite. Julia dançava enquanto passava uma velha calça jeans puída.

- Ju! Você está em casa? – Luciano brada, entrando na sala e invadindo a cozinha, que estava impecavelmente arrumada, cheirando a desinfetante e o chão refletia sua imagem.
Julia ouve seu marido chegando, e grita:
- Aqui no fundo, Luciano!

Mais que depressa, Luciano corre até os fundos da casa, dando um longo abraço em Julia, beijando-a apaixonadamente ao som de “Bundinha Marota”, depois de alguns segundos, Luciano fala:
- Olha o que eu trouxe prá você, Ju! – Diz enquanto mostra a pequena caixinha embrulhada num colorido papel de presente. Julia pega euforicamente e exclama:
- Oh! Amor! Você sempre me dando presentes, fico até sem graça.
Enquanto Julia abre o pacotinho, Luciano diz:
- Esqueceu que dia é hoje, dona Julia? Hoje faz dois anos que estamos juntos. Dois anos! – Exclama, alegremente. Julia para por um instante de desembrulhar o presente e olha para Luciano.
- Dois anos? Hoje? Amor... Eu esqueci, você acredita? Eu esqueci!
- Não se preocupa, Julia, isso é normal, sei como anda sua cabeça, sei como é importante prá gente...
Antes que Luciano termine, Julia diz:
- ... Ter um filho, né? Eu sei, Luciano, prá nossa felicidade ser completa, só falta ter-mos um filho, mas...
Nesse instante, antes mesmo de abrir o presente, lágrimas começam a brotar do rosto de Julia, Luciano percebe que não fora feliz em seu comentário, e tenta remediar:
- Ju! Calma, querida! Eu sei que a gente está tentando, sei que não é culpa de ninguém... Olha prá mim, gatinha...
Ela permanece com os olhos voltados ao chão, Luciano delicadamente coloca o dedo indicador sob seu queixo e força seu olhar em direção a ele, continua:
- Ju! A gente vai conseguir, tá entendendo? A gente vai conseguir ter esse filho, e vai ser a criança mais linda da face da Terra, viu?
Enxugando as lágrimas que teimam em rolar, Julia diz:
- Eu sei como esse filho é importante prá você, amor...
Luciano interrompe:
- Prá mim só, não, Ju! Esse filho é importante prá nós dois, não é?
- Sim... claro! Prá nós dois. – desvia o olhar novamente para o chão.
- Agora, Ju, abre seu presente, abre. Tenho certeza de que vai gostar.
Ela volta novamente sua atenção a caixinha semi aberta, e termina de rasgar o papel, abre e se surpreende, não é nada muito sofisticado, mas é delicado o suficiente para fazê-la abrir um sorriso e dizer:
- Amor! É lindo! Adorei!
Pula nos braços de Luciano, agarrando-o pelo pescoço e dando um forte abraço. Ali permanecem, por um tempo, ao som de mais um sucesso popular tocando no rádio da lavanderia.

¤

Um mês depois, estava Luciano em seu trabalho, um escritório de contabilidade, analisando alguns documentos, quando o telefone toca:

- Medeiros e associados bom dia! – diz formalmente Luciano.
- Alô! Querido! Sou eu!
- Ju! Oi amor!
- Você está muito ocupado?
- Não, só estou conferindo uns documentos, nada muito importante... Porque?
- Amor... Acabo de voltar do médico... Acho que estou grávida!
Luciano emudece por alguns segundos e então solta um grito eufórico, seu colega de trabalho, Paulinho, dá um pulo de susto na cadeira ao lado. Uma repentina alegria invade o âmago de Luciano que diz:
- Gravida! Grávida! Finalmente!
O resto do dia, Luciano não pode se concentrar no trabalho, saiu mais cedo e rumou para casa. Lá chegando, já vai logo abraçando a esposa gestante:
- Querida! Eu sabia! Sabia que esse dia não iria demorar! Sabia!
As lágrimas rolam de alegria do rosto transfigurado, ele soluça como uma criança, transbordando de tanta felicidade: “Esse é o dia mais feliz de minha vida. Você me fez o homem mais feliz do mundo!” – Grita sem limites, e ainda diz, com uma euforia quase que doentia:
- Quer saber do mais? Vamos já montando o quarto do meu filho, ele vai ser a criança mais mimada da face da Terra! Vou sair agora mesmo e comprar alguns brinquedos, vou mandar o marceneiro vir amanhã mesmo prá ir montando o quartinho dele, a gente pode usar aquele quarto ao lado do nosso, aquele que está a escrivaninha, sabe? Acho que seria o melhor, vou mandar pintar as paredes e...
Julia interrompe, com um sorriso no rosto, diz:
- Luciano, você não acha que está sendo um pouquinho apressado? Afinal, estou grávida de um mês e meio, ainda nem sabemos se é menino ou menina.
Para e reflete:
- Tem razão, Ju! Então vou pintar o quarto de amarelo, aí não tem problema, né?
Julia solta um lindo sorriso e abraça Luciano, dando-lhe um beijo.

¤

Certo dia, dois meses depois, Julia atende a uma ligação do médico, o doutor Carvalho, um velho conhecido do pai de Julia, e que estava assistindo a gestante em todo seu período pré-natal. Doutor Carvalho já tinha anos de experiência, sabia tudo de partos, tinha colocado no mundo mais de duas mil crianças. Era um velho simpático, cabelos brancos, uma grande barriga e uma conversa simples e divertida, mas neste dia, ele fala friamente:

- Julia?
Ela responde efusivamente, alegre:
- Doutor Carvalho? Oi! Tudo bem? Como vai?
O velho médico diz:
- Bem. Julia, seu marido está aí? Preciso falar com ele.
- Está sim, espera um instante... – Coloca a mão no bocal do fone e chama Luciano, que está fazendo a barba preparando-se para ir trabalhar: “Luciano, é o doutor Carvalho, ele quer falar com você.”
- Comigo? – para de fazer a barba, enxuga a espuma numa toalha de rosto e vai atender ao telefone – “Doutor Carvalho? Que prazer! Como vai o senhor?”
Carvalho responde com uma certa tensão:
- Eu vou bem. Luciano, acabei de receber o resultado dos exames que pedi para Julia fazer...
Luciano começa a ficar apreensivo:
- Ótimo, e então, vai ser menino ou menina?
- Luciano, acho que temos um probleminha... Você poderia vir até aqui hoje?
Ele arregala os olhos e diz:
- Probleminha? Como assim doutor? Não me deixe nessa apreensão!
Carvalho começa a dizer:
- É muito sério, Luciano...
Julia não pode escutar o que o doutor Carvalho falava, apenas pode ver o rosto de Luciano se transformando, tornando-se pesado, grave. Ele não disse ao menos adeus ao doutor, vociferou alguma coisa e bateu o telefone. Depois de desligar, Luciano fica por alguns segundos olhando a parede vazia, como se o mundo despencasse em suas costas. Julia olha para ele e diz:
- Amor... O que aconteceu? Me diga, o que aconteceu? Fala!
Ele não respondia, apenas fitava a parede, olhava a porta, que dava para ver o quarto ao lado, com as paredes pintadas de amarelo, um abajur colorido iluminando a penumbra, projetando na parede figuras infantis. Divagava. Julia então chacoalha o corpo de Luciano, gritando:
- Fala! Fala! Luciano! Fala o que aconteceu! – Ela já parecia transtornada, já parecia antever alguma coisa.
Luciano vira-se para ela, com o olhar meio vago, engasgando entre as palavras, diz:
- A criança...
Julia olha fixamente para ele, esperando a conclusão da frase, mas a conclusão não vem, Luciano começa a chorar copiosamente. Julia abraça-o, ele coloca as mãos na face, esfregando veementemente o rosto semi-barbado.
Julia, apesar da apreensão, da tensão, não consegue falar nada, espera que Luciano pare um pouco de chorar. Ele tenta enxugar as lágrimas, que ainda escorrem involuntariamente, acalma-se um pouco e diz:
- A criança... vai nascer deformada...
Julia toma a notícia como um choque, ficou sem reação por alguns segundos e em seguida cai no chão, desfalecida. Luciano a coloca na cama e liga novamente para o doutor. Ele receita um calmante e muito descanso para ambos.

¤

No dia seguinte, mesmo dopado com meia dúzia de calmantes, Luciano deixa em casa Julia, mergulhada num sono profundo diante da quantidade de medicamentos que tomou e foi procurar o doutor Carvalho, que contou detalhes sobre o fato:

- Bem, o caso é mais sério do que eu supunha. A criança vai nascer com paralisia cerebral, provavelmente não sobreviverá ao parto, mas se sobreviver, terá uma vida vegetativa para sempre.
Luciano ainda tenta encontrar solução:
- Mas doutor, não tem uma maneira de resolver-mos esse problema? Nada?
- Infelizmente não, se vocês optarem por ter essa criança, terão que carregar este fardo para o resto da vida.
- Optar por ter? Como assim?
- A lei é bem clara, se vocês resolverem tirar essa criança, é perfeitamente legal, não existiria empecilho algum, vocês teriam livre arbítrio para escolher.
Luciano foi enfático e responde sem titubear:
- Já está decidido, doutor! Meu sonho sempre foi ter um filho e agora que isso está perto de acontecer, não vou jamais abandonar esse sonho. Nós vamos ter essa criança!
E quando saía do consultório do doutor carvalho, já na porta, Luciano fez uma recomendação:
- Doutor, queria lhe pedir um favor...
- Pode dizer.
Vira-se e quase sussurra no ouvido do velho médico:
- Eu queria que não dissesse nada dessa história de aborto para Julia... O senhor entende, não é, doutor?
O doutor ergue a voz e diz em tom revoltado:
- Mas isso é um absurdo, Luciano! Sua mulher também tem o direito de decidir sobre o futuro dessa criança!
- Eu sei, eu sei, mas deixe que eu falo com ela, ta´? Deixa comigo que eu explico tudo. Só me promete isso, doutor.
O médico, olhando para o relógio, viu que a hora do almoço já se aproximava, para encurtar conversa, concordou com Luciano:
- Tá certo! Tá certo!

¤

Os dias passam, e nenhum dos dois tocou no assunto com o outro, finalmente, num dia, enquanto tomavam café da manhã na mesinha da cozinha, Julia, enquanto comia uma torrada com manteiga, pergunta:

- Luciano, nosso filho... – pausa, pensa um pouco e toma coragem: - O que o doutor disse? Como ele vai ser?
Luciano, que não estava se sentindo bem, tinha palpitações, falta de ar, tomava um café preto amargo, finalmente relata:
- Julia, o doutor disse que a criança tem paralisia cerebral. Se sobreviver ao parto vai ficar como um vegetal para o resto da vida.
Ela para de comer e seus olhos ficam marejados:
- Mas, não podemos tirar? Nós poderíamos tentar de novo, poderíamos ter um filho perfeito...
Luciano interrompe:
- Hei! Hei! Esqueceu que isso é ilegal no nosso país? E além do mais, essa criança que você carrega é meu filho também, não é?
Ela fecha os olhos e esfrega a testa:
- É! Mas eu pensei... Se a gente fosse numa clínica clandestina...
Ele interrompe:
- Nem pense numa coisa dessas! Escuta, Julia, é um pouco de mim o que está dentro de você, ele vai nos dar muita alegria, vamos amá-lo, mesmo com todos esses problemas, ele é nosso filhinho.
As lágrimas brotam sem limites dos olhos de Julia. Ela não consegue mais falar, apenas chora.

(... continua - não perca o final da história!)

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