22 de março de 2008

A History of Evil - A História do Mal

Documentário animado sobre o Mal. Da Grécia Antiga até os dias atuais. Muito bem feito e provocativo. Vale assistir.

Ilustração - Personagem Bizarro - Dimitri Kozma

Ilustração de um personagem aleatório.

O APODRECER DE UMA FLOR - Parte Final - Conto - Dimitri Kozma

(continuação da história postada em 19/03)


Toninho responde:
- Sim, essa daí é quase virgem, só eu é que já dei um trato nela. Eu não te prometi que arrumaria carne boa? Não tenho bom gosto, Matilde?
A velha olha o corpo de Jéssica, passa a mão pelo decote e tira um dos peitos para fora, como se analisasse um produto. Jéssica continua impassível, olhando para o chão, sem saber o que fazer, apenas aceita.
- É verdade, Toninho, você não me decepcionou mesmo. Vejo que essa aqui é da boa! Diferente das outras que você me conseguiu.
- Agora eu só vou arrumar franguinha prá você, Matilde, pode deixar.
- Tá certo, depois a gente acerta então.
- Depois nada, trato é trato, quero minha parte agora, cem pau, e nem um tostão a menos!
- Toninho, você sabe quantas vezes ela terá que deitar só prá me pagar meu prejuízo?
- Não quero saber, minha parte agora ou nada feito, levo essa franguinha prá outro galinheiro, você que sabe, Matilde.
- Tá bom, fechado, ao menos eu acho que dessa vez vale a pena o investimento inicial!
Matilde paga para Toninho, que se despede de Jéssica:
- Tchau, mina, vê se trabalha bem, tá? Um dia eu apareço aqui prá te fazer uma visitinha.
Jéssica arregala os olhos:
- V-você vai me abandonar aqui, Toninho?
- Você não quer ficar rica? Só trabalhando, minha filha, só trabalhando muito.
Ela, com os olhos marejados, ainda suplica:
- Não... por favor, não me deixe aqui...
- Por acaso você achou o quê? Não me diga que não sabia que você vinha trabalhar num lugar desses? Você é bem grandinha, mina! Você sabe muito bem o que está fazendo!
Toninho sai, sem dar atenção as lamúrias de Jéssica, que permanece ali, parada.
Matilde coloca a mão sobre o ombro de Jéssica, dizendo:
- Relaxa, minha nêga, seu primeiro cliente tá aqui.
Jéssica vira-se e dá de cara com aquele velho que fede urina, as lágrimas começam a escorrer em cascata, ele começa a passar a mão nos seios dela, acariciando-a e arfando como um animal. Matilde a arrasta até o quarto, ela, sentindo sua alma em frangalhos, já não tem forças para reagir, se deixa levar. Passa por um imenso corredor, lotado de portas trancadas, de dentro delas, pode ouvir gemidos e sussurros.
Chegando numa porta aberta, ela é jogada lá dentro, o velho que cambaleia arranca o vestido de Jéssica, e começa a lambê-la freneticamente, a baba mal cheirosa escorre pelo colchão úmido e mofado. A cabeça da pobre menina começa a girar, uma vertigem invade seu ser, ela apenas permanece ali, parada, olhando o teto, e o velho fazendo as mais hediondas atrocidades com aquela jovem.
Num instante, a visão de Jéssica escurece e ela não se lembra mais de nada, quando volta a si, está nua, na cama, virada de bruços, toda dolorida, o velho já não está mais lá. Ela fica, de certa maneira aliviada que aquilo tenha acabado.
Uma pia pinga intermitentemente no pequeno quarto, ela se aproxima e se lava, como se sua alma estivesse suja, ela se esfrega veementemente, sem parar por incontáveis minutos. Depois disso, derrama o conteúdo de um vidro de álcool pelo corpo, até nas partes genitais, o que provoca um ardor inimaginável. Ela se contorce em espasmos de dor, mas sente que isso deve ter purificado um pouco sua alma imunda. Um filete de sangue escorre por entre suas pernas, parece que seu sexo lateja, sente que está contaminada pela maldade humana.
Coloca novamente seu vestido, agora sujo e rasgado, e abre a porta, quando vai passando pelo corredor, uma outra porta se abre, e de dentro dela sai um homem asqueroso, parece que tinha a doença do fogo-selvagem, sua pele se descamava inteira, ele cheirava fezes, tinha um odor pútrido e abjeto.
Jéssica permaneceu parada, esperando o sujeito sair da sua frente, quando ia andar novamente, ainda olhando fixo para o chão, de dentro da porta que se abriu, sai mais uma pessoa, que Jéssica esbarra, a mulher, educadamente, vira-se e diz:
- Desculpa...
Olhando ainda para o chão, Jéssica reconhece aquela voz, levanta o olhar e vê, na sua frente, Luzia, sua mãe, semi-nua, fedendo como um porco. Acabara de deitar-se com aquele homem repugnante.
Luzia, com os olhos arregalados, apenas ficou ali, parada, sem saber o que fazer, o que dizer. Jéssica teve um espasmo, com as mãos no peito, ela se desequilibra, cambaleia e apenas vocifera:
- Mãe...
Luzia, que até então não tinha reação alguma, cai aos prantos aos pés da filha, gritando com todas as forças que ainda restavam naquele corpo suado:
- Jéssica! Isso não podia acontecer! Não podia! Falei prá você! Falei para que se afastasse de Toninho! Falei pra se afastar daquele filho da puta! Filha, a mãe tá trabalhando aqui prá que você tivesse uma vida digna! A mãe é puta prá que você não precise ser!
Com sua mãe agarrada em suas pernas, Jéssica, numa apatia quase que fúnebre, diz:
- Agora é tarde, mãe! Agora eu já estou nessa vida!
Luzia permaneceu ali, chorando aos pés da, antes imaculada, filha, por incontáveis momentos.

¤

O fim é injusto, agora Luzia chora a perda da filha, está estirada num caixão barato, num velório improvisado na casa da vizinha, seu corpo ainda mantém a voluptuosidade, mas já não vive, um véu de tule encobre as marcas em seu pescoço, que está rasgado, o arame farpado fez um estrago e tanto.
Luzia não tivera escolha, não pode suportar saber que sua amada filha havia seguido o mesmo caminho que ela, não pode lidar com a idéia. Em sua simples mentalidade, ela achou a melhor solução, acabar de vez com aquela tortura, esperou que a filha dormisse, e quase que cerimoniosamente, degolou-a com um rolo de arame farpado, achou que essa seria a solução mais justa. Luzia então jogou o corpo na rua, e chamou a polícia.
Finalmente sua filha está ali, repousando, agora ela é novamente pura. O ar angelical que havia sumido de sua face, voltou como que por milagre de Deus, agora sua filha era pura novamente, casta, santa.

¤

FIM
Dimitri Kozma

Patrão e Empregado 17 - O que um empregado pensa de seu patrão - Dimitri Kozma

Mais uma dessa série meio sem-graça. Publicando só pra dar alguma utilidade para essas ilustrações.
O que um empregado pensa de seu patrão
" - Como pode, tem a maior grana e não tem o mínimo bom senso para se vestir."

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