17 de junho de 2008

Disco de Tom Zé chega de graça à web e Coldplay joga álbum no MySpace, em novos capítulos da revolução no mercado fonográfico

Fonte: William Helal Filho - O Globo

O grupo Radiohead. Foto Divulgação

RIO - Tom Zé se diz um caipira, que nem conhece o Radiohead. Mas vai se unir ao rebanho, liderado pelo grupo inglês e formado ainda por bandas como Nine Inch Nails, Smashing Pumpkins e Coldplay, que explora os caminhos (sem volta) do mercado musical na web, lançando discos inteiros na rede. O novo álbum do baiano, "Danç-Êh-Sá ao vivo", vem a público nesta sexta-feira, só na internet, e os fãs poderão baixar tudo (faixas, encarte e vídeos) de graça no site da gravadora Trama. O cantor Ed Motta e a banda Cansei de Ser Sexy vão pela mesma estrada.

- Sou caipira, não conheço o Radiohead. Na minha infância, em Irará (BA), não existia nem carro. Mas não se pode ir contra o tempo. Uma vez, num festival na França, olhei para aquele monte de gente e pensei: "Caramba, esse povo todo não compra mais disco" - diz o septuagenário tropicalista.

Todo mundo sabe, há tempos, que a internet mudou o mercado musical e reduziu o prazo de validade dos CDs. Mas essa revolução ficou ainda mais clara no fim de 2007, quando o Radiohead esnobou a antiga gravadora (EMI) e lançou o álbum "In rainbows" em seu próprio site, enfatizando que os fãs decidiriam o quanto pagar (ou não pagar) pelo download. Os caras, como sempre em sua carreira, lançaram uma tendência. Em março, Trent Reznor, do Nine Inch Nails, pôs as faixas do novo "The ghost I-IV" à venda em seu site e, mês passado, jogou na web outro disco, "The slip", acompanhado da frase "Este é por minha conta". Um milhão de pessoas baixaram o CD, de graça.

O cantor Tom Zé. Foto Divulgação

- Eu queria atingir as pessoas e não preciso mais pedir permissão a ninguém. Estamos livres da burocracia - disse ao jornal "The New York Times", na semana passada, o americano Reznor, que se livrou da gravadora Interscope.

"Do a Radiohead" ("Fazer um Radiohead") virou expressão, usada quando uma banda decide distribuir música por conta própria na rede. O Smashing Pumpkins avisou que, no futuro, vai aderir. Até o Metallica, tradicional opositor dos downloads, agora almeja essa liberdade.

Mas a busca pelo novo nem sempre exclui as gravadoras. Tom Zé vai inaugurar uma invenção da Trama, o "Álbum virtual". Seu novo trabalho poderá ser baixado de graça, e artista e gravadora vão lucrar com a publicidade veiculada no site da empresa.

- Não há mais só um modelo de comercialização. A realidade é o multiformato. Ninguém mais compra CD no Brasil, mas os artistas têm que ganhar dinheiro. Com o "Álbum virtual", o público vai ter música de graça, e o artista e a Trama ganham vendendo espaço no site para anunciantes - explica João Marcelo Bôscoli, presidente da Trama, antecipando que os próximos na fila são Ed Motta e as bandas Macaco Bong e Cansei de Ser Sexy. - Mas Tom Zé avisou que não vai fazer propaganda de cerveja nem de cigarro. Vamos respeitar.

Banda de rock inglesa Coldplay. Foto Divulgação

O Coldplay não rompeu com a parceira EMI, mas o lançamento de "Viva la vida or death and all his friends" também driblou o convencional. Um single foi posto na internet para download grátis. Depois, sem avisar, a banda jogou o álbum no MySpace (sem a opção de download) uma semana antes de mandá-lo às lojas, o que só ocorreu na quinta passada. O disco foi ouvido mais de um milhão de vezes.

- Internet não é um bicho-papão. É aliada. Há novas formas de comercializar música. As gravadoras estão diversificando negócios. A EMI não só vende CDs. Nossos contratos incluem agenciamento e divulgação de shows - destaca Paulo Junqueiro, diretor artístico do cast nacional da EMI.

Lá fora, por exemplo, a gravadora cuida da turnê do grupo americano Korn, cujo vocalista, Jonathan Davis, gravou e vendeu no ano passado, por conta própria, "Alone I play", seu primeiro disco solo.

Saiba onde ouvir sem pagar:

TOM ZÉ: - "Danç-Êh-Sá ao vivo" é a regravação de "Danç-Êh-Sá - Dança dos herdeiros do sacrifício". Lançado de forma independente em 2006, o trabalho passou por mudanças na turnê e, segundo o baiano, está quase irreconhecível. Estará disponível para download grátis no www.albumvirtual.trama.com.br , mesmo site que deve lançar, em breve, os discos de Ed Motta, Macaco Bong e Cansei de Ser Sexy.

COLDPLAY: - As dez faixas e 42 minutos do novo e aguardado "Viva la vida or death and all his friends" estão no www.myspace.com/coldplay , para audição grátis. Só não pode baixar.

NINE INCH NAILS: - Para baixar "Slip", novo da banda de Trent Reznor, acesse www.nin.com e informe seu e-mail para receber o link de download. Você também pode comprar os discos "The ghost I-IV" (instrumentais), lançados em março.

OUTROS: - O DJ Girl Talk já avisou que seu próximo disco (ainda sem data) vai ser lançado de graça no site do selo Illegal Art ( www.illegalart.net ). Smashing Pumpkins e Metallica também têm planos parecidos para o futuro.

Novo Sexta-Feira 13

O site da MTV norte-americana publicou um vídeo com as primeiras imagens de bastidores do novo filme "Sexta-Feira 13". O filme tem no elenco o ator Derek Mears (Jason) e Amanda Righetti.

Texto "verdadeiro" do Arnaldo Jabor

Dei boas risadas com esse artigo "real" do Jabor que saiu hoje no Estado de S. Paulo. Fala sobre as inúmeras bobagens que rolam pela Internet e são que creditadas a ele.

Há um 'sub-eu' rolando na internet - Arnaldo Jabor
17/6/2008

Ando pela rua e as pessoas me abordam: 'Adorei o seu artigo que está circulando na internet! Maior sucesso!' Pergunto, já com medo: 'Que artigo?' 'Esse texto genial que você escreveu, que se chama A Mulher Impulsiona o Mundo: 'É você mulher, quem impulsiona o mundo. É você quem tem o poder, e não o homem. É você quem decide. Bendita a hora em que você saiu da cozinha.' Não me agüento e digo: 'Você acha que eu ia escrever uma bobagem dessas?' Aí, o admirador do texto apócrifo, fã de um 'Jabor virtual', se encolhe ofendido: 'Mas... tem coisas legais...' E eu, implacável: 'Acho uma bosta...' Pronto! O sujeito sorri amarelo e vira meu inimigo para sempre.

Já reclamei aqui desses textos apócrifos, mas tenho de me repetir. Não dá mais. Todo dia surge na internet uma nova besteira, com dezenas de emails me elogiando pelo que eu não fiz. Vou indo pela rua e três senhoras me abordam - 'Teu artigo na internet é genial! Principalmente quando você escreve: 'As mulheres são tão cheirosinhas; elas fazem biquinho e deitam no teu ombro...'' 'Não fui eu...', respondo. Elas não ouvem e continuam, sideradas: 'Modéstia sua! Finalmente alguém diz a verdade sobre as mulheres na internet! Mandei isso para mil amigas! Adoraram aquela parte: 'Tenho horror à mulher perfeitinha. Acho ótimo celulite. Querem estar sempre na moda, malhadas, mas não estão com nada, pois a imperfeição humaniza...'' Repito que não é meu, mas elas (em geral barangas) replicam: 'Ah... nem vem... É teu melhor texto...' - e vão embora, rebolando, felizes. Há mais: 'O cheirinho delas é sempre gostoso, mesmo que seja só xampu. O jeitinho que elas têm de sempre encontrar o lugarzinho certo em nosso ombro.' Ou: O amor não é chegado em fazer contas, quando a mão dele toca tua nuca, tu derretes feito manteiga, pois o amor é uma raposa... (?).

Vejam este que surgiu e acaba assim: 'As mulheres de hoje lutam para ser magrinhas. Elas têm horror de qualquer carninha saindo da calça de cintura tão baixa que o cós acaba!' ...Luto diuturnamente contra cacófatos e jamais escreveria 'cós acaba!' Mas, para todos os efeitos, fui eu. A internet é a vala comum dos autores; lá eu sou amado como uma besta quadrada, um forte asno... (dirão meus inimigos: 'Finalmente, ele se encontrou...')

Dentro da web, sou campeão mundial de lugares-comuns:

'Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!'

Ou: 'A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche!'

Ainda sobre a mulher: 'São escravas aparentemente alforriadas numa grande senzala sem grades.' Fui eu, a mula virtual, que escreveu tudo isso. E não adianta desmentir.

E não publicam só textos safadinhos, mas até coisas épicas, como uma esplendorosa Ode aos Gaúchos que eu teria escrito, o que já me valeu abraços apertados de machos bigodudos em Porto Alegre, quebrando-me os ossos: 'Tchê, tua escritura estava macanuda, trilegal!' Eu nego ter escrito aquele ditirambo meio farroupilha aos bigodudos, mas nego num tom vago, para não ser esculachado: 'Tu não escreveste? Então tu não amas nossas 'prendas' lindas, e negas ter escrito aquele pedaço em que tu dizes 'que a gente já nasce montado num bagual'? Aquilo fez meu pai chorar, e o pedaço em que falas que 'por baixo do poncho também bate um coração?' Tu tá tirando da reta, tché?' - e me aponta o dedo, de bombachas e faca de prata.'

Não sou gay (ainda), mas esse texto me cobre com uma fresca chuva de purpurina. Logo depois, aparece outro artigo onde 'eu-virtual' teria escrito: 'Antigamente o homossexualismo era proibido no Brasil. Depois passou a ser tolerado. Hoje é aceito como coisa normal. Eu vou-me embora antes que passe a ser obrigatório.' Ou seja, sou gay e homofóbico ao mesmo tempo.
Meu fantasma na internet também escreve sobre auto-ajuda; dou conselhos sobre sacanagem, para cornos e idiotas. Vejam: 'Não dá para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo. 'Ficar', também é coisa do passado. A palavra de ordem hoje é 'namorix'. A pessoa pode ter um, dois e até três namorix ao mesmo tempo!'

Também aconselho cornos, potenciais ou realizados: 'Um dia, você será corno, a menos que nunca deixe uma 'mulher moderna' insegura; senão, ela liga pra aquele ex-bom de cama, cafajeste, mas 'grandessíssimo', e pronto: lá vai você mugindo... Mulher insegura é uma máquina colocadora de chifres. Se não conseguir prendê-la, assuma seu 'chifre' em alto e bom som!'
'Eu' também dou conselhos aos burros. Ex: 'Gente chata essa que quer ser séria, profunda. Putz! Deixe a seriedade para lá. No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota!'

Mas o pior são artigos escritos em meu nome por inimigos covardes para me sujar. Há um texto rolando nos computadores - há mais de um ano - que diz coisas como: 'Brasileiro é babaca. Elege para o cargo mais importante do Estado um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari. Brasileiro é um povo trabalhador. Mentira. Brasileiro é vagabundo por excelência. Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de 90 reais mensais para não fazer nada, não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo. 90% de quem vive na favela é gente honesta e trabalhadora. Mentira. Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como 'aviãozinho' do tráfico para ganhar uma grana legal. Se a maioria da favela fosse honesta, já teriam existido condições de se tocar os bandidos de lá para fora, porque podem matar 2 ou 3 mas não milhares de pessoas. O brasileiro merece! É igual a mulher de malandro - gosta de apanhar ...'

Ou seja: admiram-me pelo que eu teria de pior; sou amado pelo que não escrevi. Na internet, eu sou machista, gay, homofóbico, idiota, corno e fascista. É bonito isso?

Fonte: O Estado de S.Paulo

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