4 de maio de 2013

2001: Uma Odisséia no Espaço. A melhor e mais complexa obra de Stanley Kubrick


Desde que comecei a escrever para o Sopa de Cérebro, tenho vontade de falar sobre este filme, mas nunca me senti arduamente preparado para tal missão. Por que? É simples. Kubrick, por si só, já é uma figura enigmática e que emprega sub textos em seus filmes de maneira brilhante, quase sempre pouco perceptíveis, ou que abra um leque de discussões sobre suas obras, afinal, ele nunca mastiga o que quer para nós. Essa característica do diretor atinge seu auge aqui, quando até hoje, passados  45 anos de seu lançamento, continua sendo uma obra de ficção científica atual e discutida, pois nenhuma das interpretações que rolaram até hoje, por mais plausíveis que possam parecer, podem ser consideradas “A” certa.

O filme é completo, pensado, perfeito, e até essa lentidão soa como proposital aos olhos dos mais filosóficos, afinal, no espaço, os movimentos parecem ser em câmera lenta.

Todo o trabalho técnico do filme é espetacular. A começar pelos efeitos visuais que nos dão à sensação de estarmos realmente explorando o espaço, quando na verdade o filme foi feito em estúdios. O trabalho se torna ainda mais espetacular se pensarmos que em 1968 o homem ainda não tinha realizado este feito. Kubrick criou todo aquele universo somente com sua imaginação.

Através dos movimentos da nave e das pessoas fora da gravidade e da visão da Terra sob o ponto de vista de uma nave espacial, ali podemos ter a exata noção da precisa visão que ele tinha do espaço.
Como não se fascinar, por exemplo, pela bela rotação que a moça dá em certo ponto do filme, saindo de cabeça para baixo pela porta lateral? E a caneta flutuante? E a sala gigante de exercícios, construída para ser rotacional e, em certo momento, Kubrick passeia com sua câmera por ela como se ela fosse plana e estática? E o que dizer da maior elipse da história do cinema, quando partimos da pré-história para o século XXI?

As atuações de todo o elenco são muito competentes. Com expressões sempre sérias e focadas, eles transmitem com sucesso ao espectador a importância da missão em que estão envolvidos. Keir Dullea é o grande destaque como o inteligente David Bowman. Preste atenção na cena em que ele tenta recuperar um colega perdido no espaço. Seu movimento brusco dos ombros pra cima e pra baixo demonstra a respiração ofegante e a tensão que ele está vivendo naquele momento. Gary Lockwood também tem boa atuação como Frank Poole, o parceiro de David. Observe como os dois conseguem transmitir através do tom de voz a preocupação eminente de ambos com as respostas do computador Hall 9000 às perguntas que eles fazem.

Quando a obra termina, claro, muito se observa. Há quem não entenda nada, há quem diga que entendeu tudo, há quem discorde, concorde, questione, ame, odeie ou considere-o um excelente resumo do atual estágio da inteligência da vida humana.

Resultarão, por fim, diversas interpretações sobre a obra que tenta interpretá-lo. Nessa instabilidade sobre uma conclusão e definição única da obra de Kubrick, todos poderão considerá-lo uma viagem, em qualquer sentido, mas que propõe e atinge com excelência seu interesse original: enaltecendo o pensamento, a interpretação, a imaginação. Aliás, quando da elaboração do livro escrito por Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke, tudo já se resumia no pensamento de seus autores, afirmando que “se algum dia alguém disser que entendeu o significado e a obra por completo, nós fracassamos”.

Enfim, um clássico do cinema que deve ser visto e revisto inúmeras vezes. Não pensem que nostalgia, é uma constatação. Os filmes antigos são extremamente melhores que os de hoje. Fica a dica.

*Leandro Aguilar 

Um comentário:

  1. Excelente crítica Leandro!
    O Sopa de Cérebro estará sempre aberto para você. :-)
    Abs

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