Magda, uma mulher fria e impassível, casou-se com Milton para obter uma estabilidade financeira e poder sair das barras da saia da mãe, no alto de seus trinta anos, Magda nunca havia sentido nada por seu marido, um empresário com médio poder aquisitivo.
Era uma mulher vistosa, não muito bonita, mas seus cabelos loiros chamavam atenção quando ela passava pela rua. Adorava passar em frente a uma obra e ouvir os gracejos dos pedreiros, era uma das raras ocasiões em que ela se realizava, quase como um orgasmo, um orgasmo que ela nunca sentira na cama com Milton.
A morosidade de sua vida conjugal havia se tornado quase que insuportável, ela saia de manhã e passava quase que o dia inteiro em um Shopping Center, comprando na maior parte do tempo quinquilharias desnecessárias, quando chegava em casa, seu marido já estava a sua espera, mas ela desviava o olhar friamente e se retirava da sala. Milton, que era apaixonado por ela, não entendia porque essa reação, mas aceitava languidamente, temendo perdê-la.
Magda sabia disso, e cada vez mais ignorava o pobre Milton, que se encolhia em seus sentimentos sem expressar nenhuma reação mais destemperada. Ao invés disso, Milton afogava suas mágoas em litros de uísque que tomava num bar perto da empresa, com seu sócio e amigo de muitos anos, Paulo.
- Sabe Paulo, a coisa está cada vez mais desesperadora, Magda me ignora como se eu fosse um leproso.
- Mas você não tem noção do porque ela te trata assim, Milton?
- Não... Desde os primeiros meses de casados, ela sempre me tratou assim, antes de nos casar-mos era as mil maravilhas, mas, no dia seguinte a da lua-de-mel, ela mudou radicalmente... – disse Milton, olhando fixamente para o copo.
- E como foi a lua-de-mel? Aconteceu alguma coisa estranha?
- Se aconteceu eu não percebi, mas eu senti ela meio fria, meio mecanizada...
- E você já pensou uma coisa...
- O quê? – Diz Milton virando-se para Paulo.
- Será que ela não tem um amante? Só pode ser isso! É óbvio!
Milton arregala os olhos, espantado:
- Mas Paulo, se ela é assim comigo, como vai ser diferente com outro homem?
- Ora rapaz, mulher adora sexo, como ela pode ser assim com você? Vai por mim que é isso mesmo: Ela tem um amante! E digo mais, quem sabe até tem vários? Não se pode confiar em mulher não, rapaz!
Paulo diz com absoluta experiência, pois já tivera em sua vida dezenas de mulheres caindo a seus pés, era um homem bem apessoado, tinha porte atlético e um bom papo, mas Milton nunca o vira namorando a sério com uma mulher, dizia Paulo que só os fracos se prendiam em sentimentos.
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Milton foi para casa com aquela idéia na cabeça, e cada vez mais mastigava isso, como a uma bola de pus remoendo em sua mente, Milton começou a olhar sua esposa Magda de uma outra maneira.
Certa vez estava ele sentado em frente ao televisor quando sua esposa, toda arrumada, perfumada e vistosa, abre a porta para sair, ele grita:
- Para onde vai a essa hora?
- Você não sabe? Vou ao Shopping, tenho que comprar umas roupas novas, essas daqui já me enjoaram! – Diz ela, virando-se levemente em direção a Milton.
Ele, com um copo de uísque na mão, dá um gole e dispara:
- Shopping? Todo dia Shopping? Essa história tá muito estranha... Eu vou com você! – Milton grita, enquanto se levanta.
- Não vai coisa nenhuma, sabe que eu odeio pessoas me pressionando enquanto eu escolho roupas! Eu vou sozinha! – Bate a porta.
Mal dá tempo de Milton chegar até a porta, já meio cambaleante devido ao uísque, ele ainda chega a abrir a porta e ver o elevador descendo, fica ali por alguns minutos, absorto entre seus pensamentos.
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No dia seguinte, enquanto trabalha, em sua mesa, ao lado de seu amigo Paulo, Milton vocifera:
- Aquela galinha! Ontem saiu, foi ao Shopping e não quis me deixar ir junto. Só pode ser amante!
- Ora, Milton, eu não falei? Bem, tá certo que não podemos provar nada, mas...
Milton vira-se num rompante:
- Como não? E quer prova melhor que essa?
- Quem sabe ela não tenha ido ao Shopping de verdade? Quem sabe? – Paulo diz, sem dar muita importância.
- Paulo, você vive me falando essa história de amante, e agora defende a vagabunda?
Paulo vira-se, com o olhar ainda entretido na papelada:
- Eu não estou defendendo, Milton, eu ainda acho que ela deve Ter um amante, mas estou dizendo que, quem sabe, dessa vez ela não tenha ido realmente ao Shopping?
- Não! Ela estava muito arrumada, muito bonita pra Ter ido ao Shopping. – Vira-se novamente para os papéis e continua o trabalho, sem dizer mais uma palavra.
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Sete horas da manhã, Milton ainda dorme, de bruços e com a cabeça enfiada no travesseiro, Magda lê uma revista feminina, encostada na cabeceira da cama, quando toca o telefone, Magda imediatamente atende, mesmo assim não consegue impedir que Milton acorda, e finge estar dormindo a seu lado. Com a voz trêmula, ela atende:
- A-alô...
Um silêncio e novamente Magda, quase balbuciando:
- Hoje? A que horas? Sim... Estarei lá...
Desliga e volta a leitura da revista. Milton ouviu tudo, mas continua fingindo.
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Naquela manhã, não falava em outra coisa para Paulo:
- A vagabunda teve coragem de marcar um encontro bem na minha frente, você acredita nisso, Paulo? Bem nas minhas barbas!
Paulo apenas ouvia, paciente, Milton continuava:
- Sabe o que eu vou fazer? Vou matá-la! Hoje mesmo vou comprar uma arma, vou matar ela e o maldito amante!
- Hei! Vamos com calma, Milton, você quer viver pelo resto da sua vida na cadeia? Quer acabar com sua vida?
- Não me interessa mais nada, eu vou acabar com isso! Mato ela, o amante e depois disso me mato com um tiro na boca! É isso! A vida prá mim não tem mais sentido, acabou!
Paulo vira-se e encosta a mão no ombro do amigo:
- Larga de drama, Milton, faz o seguinte: Termina com ela, se separa, e depois a gente vai sair, conhecer uma mulherada nova.
- Não! Ela vai Ter que pagar!
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(... continua - não perca o final da história!)