Direção: Sidney Lumet (1957)
Este é mais um filme que, com certeza, não fez sucesso nos Estados Unidos. Lumet conseguiu criar uma obra de profunda analise das mente humana, que mostra reações, preconceitos e estupidez. Realmente um tapa na cara...
O filme relata a história de um garoto de 18 anos acusado de ter assassinado seu pai, com uma faca, depois de uma briga no quarto de casa. O réu vai a julgamento e o filme começa com o juiz pedindo para o Júri, de 12 homens, decidir sobre culpado ou inocente. Eles vão escolher se este vai para a cadeira elétrica ou se este vai ser inocentado.
Esses 12 Homens têm o poder de um verdadeiro DEUS para o garoto. As palavras deles vão decidir se este vai morrer ou se este é inocente. O Júri deve decidir em UNANIMIDADE para o garoto ser eletrocutado ou inocentado. Não há meio termo e não há 11 votos a um.
É tudo ou nada.
Doze homens em uma sala. Eles nunca se viram e não sabem nada um sobre o outro. O presidente do Júri pergunta quem o considera culpado. 11 mãos ao alto. Um homem, interpretado por Henry Fonda, não levanta a mão, ele não o considera culpado. Desde então, surge no filme uma verdadeira batalha de nervos, em que homens com as mais diferentes personalidades e interesses são postos num mesmo lugar, devendo decidir sobre a vida de um ser humano. Uma batalha psicológica construída meticulosamente, de modo tão incrível que é difícil imaginar como foi o processo de criação daquele roteiro, praticamente perfeito.
Os 11 começam a atacar furiosamente, indignados com a sua ousadia contra o grupo. É simplesmente loucura ele querer inocentar um marginal de 18 anos que assassinou seu pai.
Davis (Henry Fonda) começa então uma linda e fantástica batalha verbal, em que tenta mostrar que na verdade não existe verdade absoluta e que pode haver um engano em todo esse processo. O modo como este argumenta e mostra suas idéias de modo organizado é incrível.
Ele é diferente dos 11 outros. Ele é minoria. Ele tenta mostrar os fatos, não se ligar apenas em emoções passadas ou em jogos de baiseball. Este mostra de modo lento e muito bem centrado todos os possíveis argumentos dos outros 11 e os quebra, um a um, fatos, ocasiões, recompondo as cenas do crime e vai montando um verdadeiro quebra-cabeças mental que vai escandalizando e ao mesmo tempo convencendo os outros, um a um, dobrando seus argumentos e mostrando-os que a verdade é uma coisa mais do que paradoxal e como disse Eistein, “Ela é um verdadeiro paradoxo, não existe verdade. Tudo depende do modo como se olha para um determinado fato”.
E os 96 minutos se passam completamente numa sala com uma mesa com 12 cadeiras, um bebedouro e um banheiro. E o mais fantástico é que o filme é tão intenso e pesado no nível de narrativa que não há como não ficar sem piscar e se ver completamente tragado pela trama. Todo o desenvolvimento do filme é lindo, não sendo corrido em nenhum ponto e não sendo entediante em nenhum outro, tudo está ali e nada deve ser mudado.
O filme é uma aula de advocacia. Qualquer um que se interesse ou queira prestar alguma coisa nesse meio deve (é uma obrigação), assistir a esse filme, o modo como são mostrados os detalhes dão um toque especial a narrativa densa.
O filme, 12 Homens e Uma Sentença é um filme clássico, mais do que memorável, inesquecível. É uma verdadeira obra-prima cinematográfica e uma experiência avassaladora.
Site do filme
Ficha técnica
12 Homens e Uma Sentença (12 Angry Men /Twelve Angry Men)
Drama, EUA, 1957
Direção: Sidney Lumet
Elenco: Henry Fonda, Lee J. Cobb, Ed Begley, E.G. Marshall, Jack Warden, Martin Balsam, John Fiedler, Jack Klugman, Ed Binns, Joseph Sweeney, George Voskovec, Robert Webber
13 de março de 2008
Critica do filme “12 homens e uma sentença” - por Leo Aguilar
Seções: Artigos, Cinema, Críticas de Filmes, textos
Dois anos na privada
Fazer um pouco de hora no banheiro é até normal...Mas dois anos na privada???
Americana vive em privada por dois anos e caso pára na polícia
Fonte: Associated Press / G1
O caso de uma americana de 35 anos que viveu sentada em uma privada por dois anos virou caso de polícia e também médico no estado do Kansas, nos Estados Unidos.
"Ela é adulta e tomou a própria decisão", afirmou o namorado dela, Kory McFarren. "Eu admito que deveria ter pedido ajuda antes, mas depois de um tempo você se acostuma", completou.
McFarren, porém, deixou de se acostumar à idéia após entrar no banheiro e perceber que Pam Babcock, com a pele praticamente colada ao vaso sanitário, estava "grogue".
O caso deixou perplexo até o xerife de Ness County, Bryan Whipple. "Tivemos que tirá-la com a privada e levá-la direto ao hospital", afirmou. "Tiramos a privada com um pé-de-cabra."
O namorado, de 36 anos, afirmou não ter certeza absoluta de quanto tempo ela ficou no banheiro "porque o tempo passou rápido". Ele contou, porém, que todo dia entrava no local para trocar a roupa dela, levava comida e água. Disse ainda que Pam apanhou muito na infância e que isto causou um trauma nela.
"Um dia ela viu que precisava ficar lá, porque era um lugar seguro para ela", afirmou McFarren.
Ele comentou que mantinha conversas com ela e que a relação dos dois, que dura 16 anos, era normal, apesar de nos últimos tempos ter acontecido dentro do banheiro.
McFarren, porém, sentiu a necessidade de ligar para a polícia após, no último dia 27 de fevereiro, ele notar que ela estava grogue. Pam não sabia o que estava mais acontecendo.
O xerife confirmou que Pam estava "desorientada" quando chegou na casa e que estava com infecções na perna. "Ela não foi colada. Ela não foi amarrada. Ela foi fisicamente colada pelo seu corpo", contou Whipple. "É duro de imaginar... Eu ainda estou tentando me acostumar", completou.
O policial comentou ainda que Pam, inicialmente, se recusou a ser levada para o hospital. Foi convencida apenas pelos paramédicos e pelo namorado, que dizia que ela realmente precisava de um exame.
"Ela dizia que não precisava de ajuda, que estava OK e que não queria sair", disse Whipple. Ainda segundo o xerife, o namorado pode ser processado pela justiça local, mas McFarren, que trabalha em um antiquário, garante que sempre tentou fazer com que ela saísse da privada todos os dias.
"Mas o que ela sempre dizia era: 'Talvez, amanhã'. Mas ela não queria deixar o banheiro", contou o xerife, após ouvir o namorado.
Seções: Curiosidades, Fabi Ferlin, Notícias
DEScomendo - Video Arte - Dimitri Kozma
Video Arte - 2008
Criado por: Dimitri Kozma
Com: Fabiana Ferlin
O que é DEScomer?
URL Direta: http://www.youtube.com/watch?v=CsVabvYA0r8
Seções: Arte, curta, Dimitri Kozma, Fabi Ferlin, Surreal, variedades, video
NOITE MALDITA - Parte 1 - Conto - Dimitri Kozma
O motorista, um jovem de vinte anos, cabelos raspados, boné virado para trás, enrola um punhado de maconha num papel de ceda enquanto dirige, o amigo que está do lado, um rapaz mais magro, olhos grandes e pele alva, diz em tom reprovador:
- Mauro, vai derrubar tudo, deixa eu fazer!
- Fica frio! Edu! Eu tenho anos de prática!
O outro rapaz, que se encontra no banco de trás, aparentando ser menor de idade, rosto com algumas espinhas proeminentes e boné de um time de futebol americano enfia a cara entre os dois bancos da frente e grita:
- É isso aí, o Mauro é o máximo, esse cara sabe como preparar um bagulho!
Mauro reprova, enquanto se entretém em enrolar o baseado:
- Você está me saindo muito engraçadinho pro meu gosto, Júlio, quer voltar a pé prá casa? Quer?
- Calma, Maurão! Eu tava só brincando, calma aí! – Encosta-se novamente no banco.
- Então não enche o saco... Eu não te falei que era embaçado trazer seu irmão com a gente. Edu?
Edu, enquanto revira o porta-luvas em busca de um isqueiro, diz:
- Esse moleque tem muito que aprender, Mauro, e eu acho que é a função de um irmão mais velho, né?
Lambendo a borda do cigarro, Mauro concorda:
- Isso é verdade, bom, vamos ver como seu irmãozinho se comporta...
Pega o isqueiro da mão de Edu e acende o cigarro, não para o carro por um instante, nesse momento atravessa uma avenida enorme, nem percebe que acabara de passar num sinal vermelho. Dá um trago e passa para Edu á seu lado, enquanto diz: “Esse é do bom... Não falei que conseguiria um bom?”
Edu pega o cigarro e dá dois tragos profundos, segura um pouco o ar dentro de seus pulmões e solta, dando mais uma baforada leve, diz:
- Pode crer! Esse daqui é campeão! Com quem conseguiu?
- Com aquela mina do colégio, tá ligado? A mina comprou cem gramas e tá vendendo na boa...
- Quem? A Gabi?
Enquanto conversa com Mauro, Edu passa o cigarro para seu irmão, ele pega, mas queima a ponta do dedo, tenta disfarçar e ninguém percebe. Mauro diz:
- É, a Gabi! Aquela mina é muito gostosa, não é? Tava tentando dar uns catos nela, mas a vaca não quis, por isso é que eu não vou mais comprar com ela não... Temos que arrumar um outro fornecedor.
O jovem Júlio dá uma forte inspirada naquele tubinho de papel, começa a tossir copiosamente até ficar vermelho, Mauro diz:
- Tá vendo, novato é foda! Olha aí seu irmão, Edu! Engasgou!
Edu vira-se e diz para Júlio:
- Dá essa porra aqui. Você não vai fumar mais hoje, ouviu?
Enquanto se recupera da tosse, o garoto implora:
- Porra, Edu! Deixa de frescura, me devolve esse bagulho! Senão eu conto tudo pro pai... – abre um sorriso maroto: “O que você acha?”
Antes mesmo de colocar o cigarro na boca, Edu o devolve para o garoto:
- Acho que você é um grandessíssimo filho de uma puta! Toma essa merda! Fuma! Explode! Não tô nem aí!
Mauro ironicamente fala:
- Hum! Quer dizer que o grande Edu tem medo do Papi?
- Larga mão, Mauro, você sabe que é foda! Ainda mais depois que a nossa mãe morreu... o velho se preocupa prá cacete comigo e com meu irmão. E ele não é nenhum santo, você sabe o que ele faria se soubesse o que estamos fazendo...
Enquanto passa por uma pequena ruazinha num bairro nobre da cidade. Mauro pergunta:
- Não sei não... O quê?
- Ora! Ele seria capaz de matar, o cara é violento prá caramba! Eu não queria nem imaginar o que aconteceria se...
Um arrepio percorre a espinha de Edu, o irmão Júlio, depois de mais uma inalação, passa o cigarro para Mauro e diz:
- É sério, Mauro, o véio é o demônio!
Edu continua:
- Mas a uma hora dessas, deve estar cheio de mulheres lá em casa, o cusão contrata putas prá fazerem companhia prá ele, acredita? Outro dia eu cheguei em casa e lá estava ele com duas vagabundas, aquelas bem nojentas. Porra! E depois vem com moralismo prá cima da gente...
Mauro entende:
- É isso que eu acho embaçado, mano! Eu pelo menos não tenho esse problema, morar sozinho foi a melhor coisa que eu fiz na vida, bem, na verdade foi a segunda melhor coisa, a primeira foi quando eu dei um pé na bunda da Elaine, lembra, Edu?
- Pode crer! Aquela mina tava caidaça por você, né? E você nem aí prá ela, e olha que era muito gostosa!
- Puta mina escrota, cara! – Completa Mauro.
Edu olha pela janela por alguns momentos, percebe um táxi estacionado um pouco ao fundo, do outro lado, vê um cachorro comendo restos de lixo espalhados pela calçada. Então conta:
- Meu! Lembra daquelas duas que a gente catou na festa da Solange? Lembra? Puta merda, outro dia ela me ligou, veio com um papo que estava com saudades, coisa e tal, mas eu falei que não dava mais, que estava num outro esquema, a mina me deu o número do Bip, tá aqui, ó! Eu lembro que você tinha achado ela bonitinha...
Mauro passa o cigarro para Edu enquanto fala meio displicentemente:
- Qual, aquela loirinha?
Edu segura o cigarro e dá um trago, prende por alguns segundos, soltando em seguida, dizendo:
- Não, a morena, de cabelos cacheados, lembra? Eu tinha catado ela e você ficou com a amiga, então, se tiver a fim, eu tô com o número do Bip, liga se quiser...
Lembrando-se Mauro comemora:
- Puta! Lembrei! Porra, aquela mina é muito gostosa, aquela bunda! Só de imaginar eu já fico de pau duro! Tem as manhas de me deixar o número do Bip? Tem?
- Claro, amigos são prá essas coisas, e além do mais, te devo uma, lembra da Mariana? Bom, eu não vou querer ligar prá ela mesmo, vou colocar o número no seu porta-luvas, beleza?
Mauro sorri radiante:
- Beleza! Vou passar uma mensagem amanhã mesmo!
O pequeno Júlio assiste a conversa meio deslocado, não conhece nenhuma das pessoas de que eles falavam, mas estava maravilhado com o cigarro de maconha que estava fumando, a roda se fumo se segue, até que finalmente o cigarro acaba, Mauro diz:
- Porra, esse não deu nem pro cheiro, vou querer mais...
- Bola outro aí, Maurão! – Edu fala, enquanto estrala os dedos.
- Mas eu não tô a fim de maconha não, Edu... Eu tava a fim de uma coisinha mais forte, tá a fim? A gente pode ir comprar...
Edu fala sem pestanejar:
- Claro!
Júlio escuta aquilo e enfia a cabeça entre os dois bancos da frente novamente:
- Meu! É foda! Vocês querem ir prá uma bocada? Eu tô fora!
Mauro vira-se, sem parar de dirigir, com um dedo em riste grita ferozmente para Júlio:
- Olha aqui, seu moleque! De quem é esse carro? Meu! Quem quis vir por livre e espontânea vontade? Você! Quem tá em minoria por aqui? Você! Então não enche mais o saco, tá?
O garoto se encolhe no banco novamente e diz com uma cara emburrada:
- Tá certo, tá certo! Não falo mais nada!
Fica um clima meio pesado, e para quebrar o gelo, Edu liga o rádio, tenta sintonizar uma estação que preste, mas só encontra pastores pregando o caminho de Deus. O barulho começa a irritar Mauro:
- Desliga essa merda! Tá me doendo o ouvido!
Edu vira-se para ele:
- Calma, cara! Você tá estressado? Porra! Vamos curtir a noite numa boa, beleza?
Mauro esfrega os olhos e concorda com Edu:
- Desculpa, cara, é que eu tô meio na fissura, tô com vontade de cheirar!
Edu diz:
- Beleza! Eu também tô! Vamos procurar uma bocada e a gente já resolve isso!
Júlio nada diz, apenas assiste aquilo com um olhar absorto.
¤
O carro continua varando a noite sem destino, agora passam por debaixo de um enorme viaduto, Mauro repara numa família inteira vivendo ali em caixotes de papelão, uma fogueira os aquece do frio. O silêncio imperava, dá uma olhada no relógio: Três horas da madrugada. Finalmente fala:
- Olha só esses miseráveis, mortos de fome! – Muda de assunto: “Você conhece algum lugar prá gente comprar, Edu?”
Tenta se recordar, coloca um dedo na têmpora e dá uma batidinha, tentando ver se aquilo ajuda a refrescar a memória, finalmente diz, meio relutante:
- Acho que tem uma bocada num bairro na zona norte, se eu não me engano... Um amigo meu me falou que já comprou lá, mas eu não sei aonde fica, se eu...
Mauro sem pestanejar é veemente:
- Então é prá lá que nós vamos, não importa aonde fica, a gente acha!
¤
A velocidade constante é de aproximadamente cento e vinte quilômetros por hora, o carro vara a rodovia expressa como um foguete, sem ao menos se importar com os radares detectores de velocidade que estão espalhados por ali. Finalmente chegam a um bairro pouco conhecido na zona norte, as luzes são fracas, algumas queimadas ou depredadas, não existe uma viva alma nas ruas estreitas, são quase vielas, o chão é de terra pisada, repleto de poças mal cheirosas. Mauro foi forçado a diminuir a velocidade com medo de que arrebentasse o eixo do carro devido as ondulações das ruazinhas.
Edu olha para os lados tentando encontrar alguma coisa e seu irmão Júlio tira um cochilo, deitado confortavelmente no banco de trás.
Mauro diz:
- E aí Edu, onde fica? Você não tem idéia?
Júlio acorda mas permanece com os olhos meio cerrados, fazendo força para despertar do torpor, enquanto Edu fala:
- Eu te falei, Mauro, eu não sei aonde fica, tô procurando...
- Vai ser foda a gente encontrar alguma coisa por aqui...
- O problema é o seguinte – Explica Edu – Esse bairro ainda tá muito bom prá ter uma bocada, acho que se a gente quiser achar alguma coisa, temos que ir prá uma favela ou alguma coisa parecida...
Júlio faz um esforço sobre-humano para dizer:
- Pessoal, tô com medo... Vamos embora daqui...
Os dois ignoram o que Júlio disse e continuam a conversa:
- E você acha que tem alguma favela por aqui, Edu?
- Não sei, nunca vi esse bairro na minha vida, não tenho a menor idéia de onde estamos, espero que você tenha, Mauro.
Tentando esconder uma visível preocupação, Mauro confessa:
- Prá te falar a verdade, eu tô meio perdido já faz um tempinho... Mas não tem erro não! Depois que a gente encontrar a boca e comprar pó vai ficar tudo mais fácil.
Olhando para o lado, Edu apenas vocifera:
- Espero...
¤
É impossível precisar quanto tempo passou, mas foram substanciais minutos, Júlio diz:
- Mauro, parece que a gente tá sempre voltando pro mesmo lugar...
Tentando acalmá-lo, Mauro tranqüiliza-o:
- É que as ruas por aqui são muito parecidas, além do mais, tem tanta entrada que parece um labirinto... Mas já já eu me acho, fica frio.
Edu liga o rádio, imediatamente Mauro desliga, dizendo:
- Ficou louco, Edu? Quer chamar atenção? Quer?
Edu espanta-se:
- Puta paranóia, Mauro!
Justifica-se:
- Paranóia nada, cara! É embaçado, a gente tá perdido aqui e ainda mais você quer atrair ladrão? Vamos ficar na boa, beleza?
Edu concorda:
- Tem razão, tem razão...
Júlio olhando pelo vidro fala:
- Olha ali, pessoal! Um cara, vamos perguntar prá ele...
Edu olha também e vê um rapaz negro, cabelos raspados, arrastava uma perna, aparentemente bem vestido e diz:
- Acho que é uma boa, ele deve saber de alguma coisa, o que acha Mauro?
Diz em um tom visivelmente alterado:
- Ficaram loucos? Não pensam? O cara é preto! Preto, estão vendo? Perguntar alguma coisa prá ele é assinar o atestado de óbito!
Júlio diz:
- Também não é assim, né, Mauro... Olha lá, o cara tá bem vestido...
Mauro, esfregando os olhos, ralha:
- Você é um moleque irresponsável, Júlio!
Passam o carro ao lado do pedestre, eles o fitam, ele também os olha, num misto de curiosidade e medo, Mauro não resiste e faz um comentário em voz baixa, mas o vidro estava aberto e o homem pode ouvir claramente: “Preto nojento!”
¤
Uma ladeira se aproxima, o carro sobre rapidamente enquanto o pedestre cocho avança lentamente, finalmente lá encima, Mauro avista outro homem com uma moto, estacionado encima da calçada:
- Olha lá, pessoal, um motoqueiro, agora sim, prá esse podemos perguntar...
Edu, ainda tenta dizer:
- Mas Mauro, você...
Antes que Edu termine a frase, Mauro já vai parando o carro ao lado do homem, um loiro com pele manchada de vitiligo, lábios vermelhos e um brinco na orelha esquerda. Após uma breve olhada, Mauro diz:
- Oi, por favor, a gente queria saber uma coisa... Não sei se você conhece...
O homem fica ali, imóvel, quase que temeroso, com os olhos arregalados, diz:
- O quê?
Meio sem jeito, Mauro toma coragem e finalmente pergunta:
- A gente queria... A gente queria cheirar... sabe onde fica uma bocada por aqui? Você sabe?
Ele assusta-se:
- Não... Não sei...
Encerrando o assunto, Mauro agradece e sai cantando pneu. Edu ainda diz:
- Porra Mauro! Pensei que ia perguntar como fazia prá sair daqui?
- Fica frio que não tem erro, não, Edu!
¤
O carro dobra a esquina e nesse momento ouve-se um estampido seco que ecoa por todo quarteirão. Os três pulam de susto, o coração dispara e Edu receoso pergunta:
- O q-que foi isso?
- Não sei, parecia um tiro... – Responde Mauro.
Júlio grita:
- Cara! Vamos embora daqui!
- Não! Vou dar a volta no quarteirão, vamos ver o que foi isso... – Mauro é decidido e entra na rua seguinte.
- Tá louco, cara! Isso foi um tiro! É coisa séria! Vamos embora rápido! – Edu apavorado tenta convencer Mauro, mas ele é irredutível:
- Eu só quero ver o que foi, não tem mal nenhum nisso, tem? Desencana que eu só vou dar uma volta no quarteirão depois a gente vai embora, beleza?
Os dois irmãos nada respondem, apenas olham-se.
(... continua - não percam o final da história!)
Patrão e Empregado 11 - O que um patrão nunca pode fazer ou nunca pode deixar de fazer - Dimitri Kozma
Só para marajás
A Índia sempre me pareceu uma terra de muitos contrastes, pior que o Brasil, talvez. Sempre que penso nesse País, as imagens daqueles suntuosos palácios de mármore misturam-se às visões de gente muito magra se banhando às margens do rio Ganges.
Hoje, vi na Folha um bom exemplo de suntuosidade por lá: um trem, para turistas, inspirado nos antigos trens dos marajás. Pelo que oferece, até que a diária de US$ 320 não é tão cara. Fiquei com vontade de conhecer! Quem sabe nas próximas férias! ;)
Trem transforma passageiro em marajá
Fonte: Folha de S. Paulo
"O cliente é nosso deus." Esse é o lema de uma das mais suntuosas excursões que podem ser feitas na Índia, o tour de oito dias a bordo do Deccan Odissey, trem inspirado nas composições dos marajás. Os monarcas indianos, que eram considerados divindades em seus reinos pelo subcontinente, não costumavam viajar em composições comuns.
Tal como o príncipe árabe que comprou um Airbus 380 para seu uso pessoal, os regentes da Índia tinham seus trens particulares no século 19. Hoje, a rede Taj Hotels oferece uma amostra do que era viajar como um verdadeiro marajá. O trem para 70 passageiros tem 45 tripulantes, dispostos a fazer tudo o que o turista pedir. O passeio completo dura oito dias.
Mas as jornadas podem ser puxadas (há dias em que a programação prevê café da manhã antes das 7h). Então, se houver tempo, é mais indicado interromper o tour na metade, desfrutar de alguns dias nas praias de Goa e retomar a viagem na semana seguinte. Além de conhecer alguns dos principais atrativos da Índia, como as cavernas de Ajanta (e seus afrescos budistas do século 3 a.C) e Ellora, o visitante tem a oportunidade de desfrutar de um palácio sobre trilhos. Em cada vagão há quatro quartos, com banheiro privativo, como os de hotéis. O restaurante oferece sempre duas alternativas de menu, um indiano, outro internacional. A preferência dos hóspedes, via de regra, é a segunda opção, que contempla até costeletas de cordeiro e foie gras. Assim, se você preferir as iguarias indianas, é indicado que ocupe o primeiro turno das refeições -como em navios, há revezamento nas mesas.
Sobre os trilhos, o hóspede tem à disposição um salão de beleza e até uma academia. O trem é turístico, mas quem quiser manter contato com o escritório tem acesso à internet na sala dos computadores -mas como a conexão é feita por telefone celular, e a rede indiana tem alguns pontos sem cobertura, é melhor não deixar para fechar negócios de lá. Mas os principais atrativos do trem são os salões onde funcionam o bar e a área de convivência dos hóspedes. A convivência entre os passageiros é encorajada. E os papos sobre as diferenças culturais entre os passageiros costumam ir madrugada adentro. Para o turista brasileiro, que não tem o hábito de viajar de trem, é ainda mais interessante. Pois tudo (tudo mesmo) é uma novidade.
E a profusão de funcionários sempre se preocupa com o conforto do hóspede. Exemplo: depois de o barman conhecer, pelo repórter, a receita de caipiroska, ele ofereceu o drinque, sem ter sido solicitado, na festa de Réveillon. As cidades por que o Deccan Odissey passa também valem a pena. A primeira metade do roteiro percorre praias banhadas pelo mar Arábico. O destaque é Goa, onde estabeleceram-se os portugueses, primeiros europeus a fincarem suas bandeiras em solo indiano. Depois, ao entrar pelo interior, o trem passa por locais de importância histórica. Os dois últimos dias são incríveis.
Em Ellora, há visita a templos esculpidos na montanha, entre os anos de 600 e 1000. Os trabalhadores subiam em um bloco de pedra e o esculpiam de cima para baixo e de dentro para fora, criando cavernas. O destaque é o templo Kailsava, cuja construção demandou a remoção de 200 mil toneladas de rochas. Antes de chegar ao local das cavernas, o tour passa pelo forte de Daulatabad. O local chama atenção pelas inúmeras formas de defesa. O caminho ao cume passa por um fosso (que tinha crocodilos e cobras) com ponte elevadiça, labirinto dentro de caverna e outras formas de prevenção a ataques. Era para ser uma fortaleza inexpugnável, mas foi tomada dos hindus pelos muçulmanos por conta de uma propina.
No último dia, além das cavernas de Ajanta e seus afrescos budistas, o trem passa por Nasik, cidade sagrada do hinduismo e um dos quatro locais onde é celebrado o Kumbh Mela, festival religioso que reúne milhões de peregrinos a cada três anos.
DECCAN ODISSEY
A diária a bordo do trem custa US$ 320, em quarto duplo www.deccan-odyssey-india.com
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