Belmiro dispara em direção a Altair:
- Sabe qual é seu problema?
- Qual? – Pergunta Altair, um rapaz de pouca idade, bigodinho crescendo no rosto repleto de espinhas amareladas, enquanto toma uma xícara de café com leite e pão com manteiga no boteco da esquina.
- Você é muito romântico, você parece que vive no século passado, Altair! Onde já se viu mandar poemas de amor para uma mulher? Só você mesmo!
- Mas eu amo Jéssica, eu faria tudo por ela! Não importa que só tenho o desprezo em troca.
Belmiro, seu amigo, um pouco mais velho, refletia a experiência nos olhos, tentava dissuadir Altair daquele ato em que estava prestes a fazer:
- Não mande nada! Fale com ela, é mais esquema, olha só, veja se não estou com a razão: você fala com ela olho no olho, garanto que Jéssica não vai resistir , nenhuma mulher resiste quando você chega olho no olho e... pronto! Já está no papo!
Altair molha o pão no café com leite, dá uma mordida e retruca:
- Não sei não, Belmiro, Jéssica é uma menina diferente, você sabe, eu a conheço desde criança, sempre fui apaixonado por ela, mas nunca consegui me declarar, nunca consegui fazer nada mais do que apertar sua mão, apenas como amigos, nada mais que isso, você acha que vou ter coragem de agarrá-la? Não consigo nem erguer o olhar quando a vejo em minha frente.
Belmiro, que segurava uma coxinha na mão, olha meio que impressionado com a ingenuidade do amigo e fala:
- Pois bem, pois bem... faça o que seu coração mandar então, depois que levar um fora, não me venha chorando as pitangas prá cima de mim, tá certo? Não me venha com dor de cotovelo porque eu não vou ficar te consolando.
Altair tira o dinheiro da velha carteira e paga a conta ao mesmo tempo em que dá um último gole na xícara e diz para Belmiro:
- Tenho certeza, um dia ela ainda vai ser minha, Belmiro, escute só essa promessa, Jéssica ainda vai ser minha!
- Você não tem jeito mesmo, Altair... Agora vamos que o patrão está esperando prá gente fazer as entregas, hoje o dia vai ser longo.
Trabalhavam a mais ou menos cinco meses numa agência de entregas, conhecidos como “motoboys”, Belmiro e Altair penavam para conseguir ganhar a vida. As vezes varavam noites entregando pacotes e encomendas, se sujeitando as maiores humilhações possíveis.
Altair não gostava, mas tinha que se sujeitar a esse trabalho, seu pai ficara viúvo e estava num estado avançado de arteriosclerose, já não andava e os momentos de lucidez ficavam cada vez mais raros, Altair era quase que um sozinho no mundo, se não fosse pelo recém amigo Belmiro, que conhecera quando entrou na agência.
De uma família um pouco mais abastada, Belmiro dizia que trabalhava por hobbie , quase que uma brincadeira, gostava de andar de moto e a família não o deixava, arranjou este emprego como uma espécie de carta de liberdade, agora não podiam dizer nada, pois estava trabalhando, Belmiro era um rapaz simpático, não era bonito, mas chamava atenção pelo porte atlético, ar galanteador e lábia afiadíssima, apesar de ter uma capacidade mental um pouco limitada. Quase que uma antítese de Belmiro, Altair era um garoto retraído, nunca tivera uma namorada na vida, andava curvado pois tinha uma lordose intratável, tinha um aspecto estranho, imensas orelhas de abano que davam um ar meio abestalhado ao jovem rapaz, mas ao contrário, tinha uma mente brilhante, de uma generosidade enorme, cuidava do pai inválido com uma dedicação quase santa. Escrevia poemas que mantinha trancafiados na pequena gaveta do criado mudo ao lado de sua cama. Nunca os mostrara a ninguém, na verdade nunca teve a oportunidade de mostra-las a alguém.
Apaixonara-se por Jéssica desde sua infância, Altair nunca pensara em outra mulher, Jéssica populava sua mente fértil, que imaginava as maiores fantasias com aquela moça suburbana e delicada que nem sabia de sua existência.
¤
Certa vez, num Domingo qualquer, como sempre, Altair deliciava-se com a programação televisiva, ao lado de seu pai, inerte numa cadeira de rodas, o jovem assistia a aqueles programas popularescos com um deleite quase que divino.
Inicia-se um programa novo: “O Amor na TV”, e logo vê uma chamada para participar, o locutor anuncia: “Se você gosta de uma pessoa mas não tem coragem de se declarar para ela, venha se declarar ao vivo, aqui no nosso programa ´O Amor na TV´, escreva para nós que entraremos em contato com você e com sua amada!” – Rapidamente Altair rasga um pedaço do papel do saco de pão e um pequeno lápis com a ponta gasta e anota o endereço forçando o lápis sobre a mesa da sala, seu pai olha e grita quase que ferozmente:
- Vai estragar a mesa, menino!
Altair, já acostumado com os desvarios do pai, pede desculpas e continua a escrever.
¤
No dia seguinte, Altair acorda e olha para aquele pedaço de papel, olha e pensa consigo mesmo se deveria escrever para lá, está quase que decidido, mas chegando ao trabalho, resolve pedir a opinião de Belmiro, seu conselheiro sentimental:
- Meu Deus! Altair! Você enlouqueceu? – Esbraveja o amigo, quase que esmurrando a parede.
- Mas Belmiro, eu acho que essa é a única solução, acho que só assim Jéssica vai poder ter noção do amor que sinto por ela.
Belmiro vira-se e coloca a mão no ombro de Altair, dizendo:
- Olha, você vai fazer papel de bobo, o que você acharia de levar um fora em rede nacional? O Brasil inteiro vendo-o se humilhar? Acha bonito?
- Mas e... e se ela aceitar?
- E se ela não aceitar? Você acha que vale a pena correr o risco? Acha?
Altair ainda segura o papel, dá uma olhada naquele endereço quase que apagado, e fala:
- Não sei... Eu amo Jéssica mais do que a mim mesmo, acho que seria capaz de matar por causa dela. Seria capaz de matar.
- Não vamos exagerar, Altair.
Levanta o olhar:
- Não é exagero, não, Belmiro! Eu mataria por ela! Juro! Mataria e daria minha vida por um momento com ela. Um breve momento em sua compania, apenas um momento sentindo o calor daquele corpo, sentido o arfar de sua respiração em meu ouvido... Faria qualquer coisa por esse momento.
Enquanto coloca o capacete, Belmiro faz a observação óbvia:
- Você tá caidaço por ela, não tá? Cara, a gente não pode ter tudo que quer, sabia? Às vezes é melhor partir prá outra do que continuar sofrendo por alguma coisa que você nunca terá. Bota isso na cabeça, Altair, Jéssica não é mulher pra você.
Liga a moto e sai levando meia dúzia de pacotes na garupa, Altair fita-o por alguns segundos até se recompor do baque.
¤
Chega em casa a noite, aquele endereço não sai de sua cabeça. Deveria escrever? Olha mais uma vez aquele papel rasgado e decide, finalmente mandar a carta. Recorta uma folha em branco de seu caderno de poesias e coloca todo seu coração para fora, despeja toda a emoção de seu âmago, naquelas poucas linhas, Altair esmiúça, como nunca antes fizera, sua alma. Relata todo seu dilema, conta detalhes de sua conturbada vida, fala mais doce como nunca de sua amada Jéssica e para finalizar, anexa alguns de seus poemas apaixonados que fizera para a garota com quem sonha.
Quando termina de escrever, já passa das quatro horas da madrugada, deverá acordar as seis, rapidamente passa cola no envelope e fecha a carta para postá-la no dia seguinte.
¤
Não conta nada para Belmiro, mas nos dias seguintes, Altair fica cada vez mais irrequieto, não pensa em outra coisa. Sua idéia fixa se torna quase que uma obsessão.
Num dia qualquer, Belmiro almoça com Altair um prato feito num bar cheio de moscas varejeiras e baratas andando pelas paredes. Altair não tem fome, apenas pensa em sua amada, Belmiro come compulsivamente e fala como um condenado:
- Altair, você tem que parar de pensar nessa menina, chega cara! Você percebeu que você virou um chato? Não tá vendo que não dá mais prá agüentar você falando dela na minha orelha?
- Desculpe Belmiro, mas eu não consigo, sonho com Jéssica toda noite, imagino seus lábios tocando os meus, imagino seu perfume invadindo minha alma, aquele doce sorriso não sai mais de minha cabeça.
Sem parar de comer, Belmiro diz:
- Você tem certeza de que ela não tem ninguém? Pode ter certeza disso? Sabe que não, né?
Sem tocar na comida, Altair se levanta:
- O que você insinua, Belmiro? Me diz, o que você está insinuando? Jéssica é a mulher mais pura desse mundo, sabia? É a mulher mais santa!
- Não diga besteiras, Altair, Jéssica é como qualquer outra mulher, é uma galinha, uma piranha que...
Altair coloca as duas mãos na mesa apoiando perto de Belmiro, todos os fregueses do bar olham quando ele grita furiosamente:
- Que oque? Fala! O que você está me escondendo, Belmiro? Fala agora!
- Fala baixo, quer dar vexame vai gritar com as tuas negas, senta aí, porra!
Tentando se acalmar, mas visivelmente transtornado, Altair se senta:
- Tudo bem, tudo bem... Desculpa Belmiro, eu to nervoso, mas me diga, o que você está me escondendo?
Ainda comendo, com um meio sorriso nos lábios, Belmiro calmamente fala:
- Agora melhorou. Bem, não sei se é verdade, mas dizem que Jéssica saiu com um cara do Morumbi, dizem que ele passou na casa dela e ela voltou só dois dias depois... A farra deve ter sido grande!
Altair levanta-se novamente, dessa vez grita mais alto:
- Mentira! Mentira! Você é um mentiroso, Belmiro, Mentira!
Sai correndo, deixando o prato quase cheio, Belmiro apenas observa, absorto com a reação destemperada de Altair.
¤
Aquilo não saía da cabeça de Altair, aquela sensação de ter sido enganado não deixava-o dormir, revirava na cama sem ao menos conseguir dar um cochilo, sua mente se revoltava e fazia-o delirar como nunca havia acontecido antes. Ao mesmo tempo em que não conseguia dormir, podia ouvir os roncos do pai que vinham do outro quarto, aquilo o irritava de uma maneira tão absurda que o fez imaginar que bom seria se cortasse o pescoço do velho caquético, acabando de vez com aquele tormento de anos que não tinha mais fim. Imaginava que bom seria finalmente ter um pingo de paz na sua aborrecida vida.
Mas rapidamente esses pensamentos espúrios saíram de sua cabeça e novamente veio-lhe a imagem da meiga Jéssica.
Começou a imaginá-la nos braços de um maldito playboy, começou a imaginar seu perfume impregnando o corpo de outro homem, sua boca macia roçando o tórax musculoso de alguém que não fosse ele. Aquilo subiu na cabeça de Altair como um foguete, seus olhos não conseguiam mais se fechar, a cama parecia que o expulsava, não conseguia respirar direito e seu corpo estava ensopado de suor.
Na manhã seguinte, abre a caixa de correio e vê um telegrama urgente, lê o nome do remetente: TV Atual, Produção do programa “O Amor na TV”, abre o envelope furiosamente e lê a mensagem curta: “Compareça a Rua do Rosário, 105, dia 10/09 ás 20:00 hs”. Finalmente tinha chegado sua chance, agora finalmente Altair poderia se declarar a Jéssica, mas ele já não parecia feliz, não estava mais ansioso como antes, guardou o papel no bolso e foi trabalhar.
¤
(... continua - não perca o final da história!)
- Sabe qual é seu problema?
- Qual? – Pergunta Altair, um rapaz de pouca idade, bigodinho crescendo no rosto repleto de espinhas amareladas, enquanto toma uma xícara de café com leite e pão com manteiga no boteco da esquina.
- Você é muito romântico, você parece que vive no século passado, Altair! Onde já se viu mandar poemas de amor para uma mulher? Só você mesmo!
- Mas eu amo Jéssica, eu faria tudo por ela! Não importa que só tenho o desprezo em troca.
Belmiro, seu amigo, um pouco mais velho, refletia a experiência nos olhos, tentava dissuadir Altair daquele ato em que estava prestes a fazer:
- Não mande nada! Fale com ela, é mais esquema, olha só, veja se não estou com a razão: você fala com ela olho no olho, garanto que Jéssica não vai resistir , nenhuma mulher resiste quando você chega olho no olho e... pronto! Já está no papo!
Altair molha o pão no café com leite, dá uma mordida e retruca:
- Não sei não, Belmiro, Jéssica é uma menina diferente, você sabe, eu a conheço desde criança, sempre fui apaixonado por ela, mas nunca consegui me declarar, nunca consegui fazer nada mais do que apertar sua mão, apenas como amigos, nada mais que isso, você acha que vou ter coragem de agarrá-la? Não consigo nem erguer o olhar quando a vejo em minha frente.
Belmiro, que segurava uma coxinha na mão, olha meio que impressionado com a ingenuidade do amigo e fala:
- Pois bem, pois bem... faça o que seu coração mandar então, depois que levar um fora, não me venha chorando as pitangas prá cima de mim, tá certo? Não me venha com dor de cotovelo porque eu não vou ficar te consolando.
Altair tira o dinheiro da velha carteira e paga a conta ao mesmo tempo em que dá um último gole na xícara e diz para Belmiro:
- Tenho certeza, um dia ela ainda vai ser minha, Belmiro, escute só essa promessa, Jéssica ainda vai ser minha!
- Você não tem jeito mesmo, Altair... Agora vamos que o patrão está esperando prá gente fazer as entregas, hoje o dia vai ser longo.
Trabalhavam a mais ou menos cinco meses numa agência de entregas, conhecidos como “motoboys”, Belmiro e Altair penavam para conseguir ganhar a vida. As vezes varavam noites entregando pacotes e encomendas, se sujeitando as maiores humilhações possíveis.
Altair não gostava, mas tinha que se sujeitar a esse trabalho, seu pai ficara viúvo e estava num estado avançado de arteriosclerose, já não andava e os momentos de lucidez ficavam cada vez mais raros, Altair era quase que um sozinho no mundo, se não fosse pelo recém amigo Belmiro, que conhecera quando entrou na agência.
De uma família um pouco mais abastada, Belmiro dizia que trabalhava por hobbie , quase que uma brincadeira, gostava de andar de moto e a família não o deixava, arranjou este emprego como uma espécie de carta de liberdade, agora não podiam dizer nada, pois estava trabalhando, Belmiro era um rapaz simpático, não era bonito, mas chamava atenção pelo porte atlético, ar galanteador e lábia afiadíssima, apesar de ter uma capacidade mental um pouco limitada. Quase que uma antítese de Belmiro, Altair era um garoto retraído, nunca tivera uma namorada na vida, andava curvado pois tinha uma lordose intratável, tinha um aspecto estranho, imensas orelhas de abano que davam um ar meio abestalhado ao jovem rapaz, mas ao contrário, tinha uma mente brilhante, de uma generosidade enorme, cuidava do pai inválido com uma dedicação quase santa. Escrevia poemas que mantinha trancafiados na pequena gaveta do criado mudo ao lado de sua cama. Nunca os mostrara a ninguém, na verdade nunca teve a oportunidade de mostra-las a alguém.
Apaixonara-se por Jéssica desde sua infância, Altair nunca pensara em outra mulher, Jéssica populava sua mente fértil, que imaginava as maiores fantasias com aquela moça suburbana e delicada que nem sabia de sua existência.
¤
Certa vez, num Domingo qualquer, como sempre, Altair deliciava-se com a programação televisiva, ao lado de seu pai, inerte numa cadeira de rodas, o jovem assistia a aqueles programas popularescos com um deleite quase que divino.
Inicia-se um programa novo: “O Amor na TV”, e logo vê uma chamada para participar, o locutor anuncia: “Se você gosta de uma pessoa mas não tem coragem de se declarar para ela, venha se declarar ao vivo, aqui no nosso programa ´O Amor na TV´, escreva para nós que entraremos em contato com você e com sua amada!” – Rapidamente Altair rasga um pedaço do papel do saco de pão e um pequeno lápis com a ponta gasta e anota o endereço forçando o lápis sobre a mesa da sala, seu pai olha e grita quase que ferozmente:
- Vai estragar a mesa, menino!
Altair, já acostumado com os desvarios do pai, pede desculpas e continua a escrever.
¤
No dia seguinte, Altair acorda e olha para aquele pedaço de papel, olha e pensa consigo mesmo se deveria escrever para lá, está quase que decidido, mas chegando ao trabalho, resolve pedir a opinião de Belmiro, seu conselheiro sentimental:
- Meu Deus! Altair! Você enlouqueceu? – Esbraveja o amigo, quase que esmurrando a parede.
- Mas Belmiro, eu acho que essa é a única solução, acho que só assim Jéssica vai poder ter noção do amor que sinto por ela.
Belmiro vira-se e coloca a mão no ombro de Altair, dizendo:
- Olha, você vai fazer papel de bobo, o que você acharia de levar um fora em rede nacional? O Brasil inteiro vendo-o se humilhar? Acha bonito?
- Mas e... e se ela aceitar?
- E se ela não aceitar? Você acha que vale a pena correr o risco? Acha?
Altair ainda segura o papel, dá uma olhada naquele endereço quase que apagado, e fala:
- Não sei... Eu amo Jéssica mais do que a mim mesmo, acho que seria capaz de matar por causa dela. Seria capaz de matar.
- Não vamos exagerar, Altair.
Levanta o olhar:
- Não é exagero, não, Belmiro! Eu mataria por ela! Juro! Mataria e daria minha vida por um momento com ela. Um breve momento em sua compania, apenas um momento sentindo o calor daquele corpo, sentido o arfar de sua respiração em meu ouvido... Faria qualquer coisa por esse momento.
Enquanto coloca o capacete, Belmiro faz a observação óbvia:
- Você tá caidaço por ela, não tá? Cara, a gente não pode ter tudo que quer, sabia? Às vezes é melhor partir prá outra do que continuar sofrendo por alguma coisa que você nunca terá. Bota isso na cabeça, Altair, Jéssica não é mulher pra você.
Liga a moto e sai levando meia dúzia de pacotes na garupa, Altair fita-o por alguns segundos até se recompor do baque.
¤
Chega em casa a noite, aquele endereço não sai de sua cabeça. Deveria escrever? Olha mais uma vez aquele papel rasgado e decide, finalmente mandar a carta. Recorta uma folha em branco de seu caderno de poesias e coloca todo seu coração para fora, despeja toda a emoção de seu âmago, naquelas poucas linhas, Altair esmiúça, como nunca antes fizera, sua alma. Relata todo seu dilema, conta detalhes de sua conturbada vida, fala mais doce como nunca de sua amada Jéssica e para finalizar, anexa alguns de seus poemas apaixonados que fizera para a garota com quem sonha.
Quando termina de escrever, já passa das quatro horas da madrugada, deverá acordar as seis, rapidamente passa cola no envelope e fecha a carta para postá-la no dia seguinte.
¤
Não conta nada para Belmiro, mas nos dias seguintes, Altair fica cada vez mais irrequieto, não pensa em outra coisa. Sua idéia fixa se torna quase que uma obsessão.
Num dia qualquer, Belmiro almoça com Altair um prato feito num bar cheio de moscas varejeiras e baratas andando pelas paredes. Altair não tem fome, apenas pensa em sua amada, Belmiro come compulsivamente e fala como um condenado:
- Altair, você tem que parar de pensar nessa menina, chega cara! Você percebeu que você virou um chato? Não tá vendo que não dá mais prá agüentar você falando dela na minha orelha?
- Desculpe Belmiro, mas eu não consigo, sonho com Jéssica toda noite, imagino seus lábios tocando os meus, imagino seu perfume invadindo minha alma, aquele doce sorriso não sai mais de minha cabeça.
Sem parar de comer, Belmiro diz:
- Você tem certeza de que ela não tem ninguém? Pode ter certeza disso? Sabe que não, né?
Sem tocar na comida, Altair se levanta:
- O que você insinua, Belmiro? Me diz, o que você está insinuando? Jéssica é a mulher mais pura desse mundo, sabia? É a mulher mais santa!
- Não diga besteiras, Altair, Jéssica é como qualquer outra mulher, é uma galinha, uma piranha que...
Altair coloca as duas mãos na mesa apoiando perto de Belmiro, todos os fregueses do bar olham quando ele grita furiosamente:
- Que oque? Fala! O que você está me escondendo, Belmiro? Fala agora!
- Fala baixo, quer dar vexame vai gritar com as tuas negas, senta aí, porra!
Tentando se acalmar, mas visivelmente transtornado, Altair se senta:
- Tudo bem, tudo bem... Desculpa Belmiro, eu to nervoso, mas me diga, o que você está me escondendo?
Ainda comendo, com um meio sorriso nos lábios, Belmiro calmamente fala:
- Agora melhorou. Bem, não sei se é verdade, mas dizem que Jéssica saiu com um cara do Morumbi, dizem que ele passou na casa dela e ela voltou só dois dias depois... A farra deve ter sido grande!
Altair levanta-se novamente, dessa vez grita mais alto:
- Mentira! Mentira! Você é um mentiroso, Belmiro, Mentira!
Sai correndo, deixando o prato quase cheio, Belmiro apenas observa, absorto com a reação destemperada de Altair.
¤
Aquilo não saía da cabeça de Altair, aquela sensação de ter sido enganado não deixava-o dormir, revirava na cama sem ao menos conseguir dar um cochilo, sua mente se revoltava e fazia-o delirar como nunca havia acontecido antes. Ao mesmo tempo em que não conseguia dormir, podia ouvir os roncos do pai que vinham do outro quarto, aquilo o irritava de uma maneira tão absurda que o fez imaginar que bom seria se cortasse o pescoço do velho caquético, acabando de vez com aquele tormento de anos que não tinha mais fim. Imaginava que bom seria finalmente ter um pingo de paz na sua aborrecida vida.
Mas rapidamente esses pensamentos espúrios saíram de sua cabeça e novamente veio-lhe a imagem da meiga Jéssica.
Começou a imaginá-la nos braços de um maldito playboy, começou a imaginar seu perfume impregnando o corpo de outro homem, sua boca macia roçando o tórax musculoso de alguém que não fosse ele. Aquilo subiu na cabeça de Altair como um foguete, seus olhos não conseguiam mais se fechar, a cama parecia que o expulsava, não conseguia respirar direito e seu corpo estava ensopado de suor.
Na manhã seguinte, abre a caixa de correio e vê um telegrama urgente, lê o nome do remetente: TV Atual, Produção do programa “O Amor na TV”, abre o envelope furiosamente e lê a mensagem curta: “Compareça a Rua do Rosário, 105, dia 10/09 ás 20:00 hs”. Finalmente tinha chegado sua chance, agora finalmente Altair poderia se declarar a Jéssica, mas ele já não parecia feliz, não estava mais ansioso como antes, guardou o papel no bolso e foi trabalhar.
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(... continua - não perca o final da história!)
Oiêee!
ResponderExcluirAinda não li. Letei com mais tempo prá degustar cada palavra.
Tem um meme prá vc no meu blog.
Beijos doces.
já está na hora de pensar em publicar!
ResponderExcluirIsso venderia.